6.6 - A Grécia Antiga (em construção)
Ainda hoje, sobre vários aspectos, podemos encontrar inúmeros valores difundidos pela civilização da Grécia Antiga em nossa sociedade. Nas artes, na filosofia, nas ciências e na política podemos identificar vários pontos que tiveram sua origem entre os gregos, que, juntos com os romanos formam aquilo que chamamos de antiguidade clássica. A história da Grécia Antiga se estende por quase dois mil anos e costuma ser dividida pelos estudiosos para facilitar a sua compreensão em cinco períodos: Pré-Homérico, Homérico, Arcaico, Clássico e Helenístico. É seguindo essa divisão que vamos procurar entender a história dessa civilização.
A Geografia
O território ocupado pela Grécia Antiga pode ser dividido em três grandes partes: a Grécia continental (localizada ao norte e no interior do continente europeu), a Grécia Peninsular (localizada ao sul; Península do Peloponeso) e a Grécia Insular (formada pelas diversas ilhas dos mares Egeu e Jônico, sendo que a maior delas é a de Creta). De modo geral, o território grego é marcado pelasmontanhas e pelo mar. Apesar de 80% do território grego ser dominado por montanhas, as férteis planícies que se encontram entre elas permitiram o desenvolvimento de importantes cidades, sendo que boa parte delas estavam localizadas próximas ao mar. O litoral bastante recortado e contando com bons portos e ilhas próximas uma das outras, fez com que os gregos naturalmente se dedicassem ao comércio e a navegação. Na antiguidade o relevo montanhoso dificultava muito a comunicação por terra entre as diferentes regiões. Desse modo, apesar das rotas marítimas e das trocas comerciais, a extensa rede de montanhas influenciou profundamente a organização política e econômica dos gregos, que nunca mantiveram um Estado unificado. A Grécia Antiga que vamos estudar nada mais é do que um conjunto de cidades-estados independentes uma das outras e que muitas vezes rivalizavam.
Período Pré-Homérico
Os primeiros povoadores e as origens da civilização grega
A civilização cretense foi a primeira a se fixar na região insular do mundo grego. Fixados na Ilha de Creta, essa civilização construiu várias cidades ao longo da ilha e de outras partes da Grécia Continental. Nesse período quatro diferentes povos de origem indo-europeia teriam dado origem a civilização grega ao invadirem inicialmente a ilha de Creta: aqueus, jônios, eólios e dórios. Por volta do ano 2000 a.C, os aqueus, nômades vindos da Europa oriental, ocuparam a região do Peloponeso e fundaram diversas cidades, sendo que Micenas foi a que mais se destacou estabelecendo inclusive importante intercambio cultural e comercial com os cretenses. Após assimilarem grande parte dos conhecimentos dos cretenses os aqueus acabaram dominando a ilha de Creta e, mais tarde, a cidade de Tróia marcando o início de um período de domínio no comércio marítimo no Mar Mediterrâneo.
Depois dos aqueus, foi a vez dos jônios e dos eólios integrarem-se às populações que habitavam a península do Peloponeso. Por fim, aproximadamente em 1200 a.C, quando os aqueus tinham grande poder em toda a região, os dórios, vindos do sudoeste da Macedônia, migraram para a região e aniquilaram a civilização creto-micênica.[1] A partir desse momento os grandes centros urbanos e a intensa atividade comercial entram em fase de declínio e as comunidades se tornam basicamente agrícolas. A invasão dos dórios marca o início do Período Homérico.
Período Homérico
A maior parte das informações desse período são encontradas em duas importantes obras do poeta Homero: a Ilíada e a Odisseia[2]. As populações que sobreviveram às invasões dóricas refugiaram-se no interior da Península Balcânica e passaram a se organizar em grupos familiares chamados genos. Cada geno era formado por um conjunto de indivíduos que se identificavam com um antepassado comum e era chefiado por um patriarca, responsável pela produção econômica, pelas atividades religiosas, militares e judiciárias. A estrutura garantia que nenhum geno se desenvolvesse mais que outro e as famílias que tinham dificuldade na produção eram livres para utilizar escravos ou o trabalho de artesãos. Nesse período, os bens de produção (terras, sementes, instrumentos) e o trabalho eram coletivos. Socialmente, predominava a igualdade, pois não havia diferenças econômicas.
No final do período Homérico, o crescimento da população e a escassez de terras férteis provocou grande crise nessas comunidades que passaram por profundas transformações. A produção agrícola não acompanhava o ritmo do crescimento populacional e novos grupos sociais foram surgindo. Uma poderosa aristocracia[3] rural passou a dominar as terras mais férteis, e o restante da população, desprovida de terra, passou a se dedicar ao comércio e ao artesanato. Enquanto que a vida em comunidade se desintegrava iam surgindo conflitos entre os genos, que para se fortalecerem procuraram se unir a outros.
Período Arcaico
A formação das pólis
Ao final do Período Homérico, a reunião dos genos em unidades políticas maiores deu início ao processo de urbanização na Grécia e foram surgindo às primeiras cidades-estados, chamadas pelos gregos de pólis. As cidades gregas eram independentes uma das outras, ou seja, cada uma possuía suas próprias leis, seu próprio governo, sua força militar, sua organização social e econômica, seu calendário e suas moedas. Os antigos gregos jamais estiveram reunidos sob um único governo e os sistemas variaram de acordo com a pólis ou conforme a situação.
Inicialmente, a maioria das pólis gregas adotaram a monarquia como regime político, ou seja, eram governadas por reis que além de serem chefes políticos, tinham funções religiosas. Algumas cidades chegaram a existir simultaneamente dois reis, como Esparta, por exemplo. Outro sistema conhecido pelos gregos foi a oligarquia, em que o poder ficava dividido entre pessoas que pertenciam às famílias mais importantes de uma cidade. Em algumas cidades, os governos oligárquicos foram derrubados pela força e nesse caso o poder era substituído por uma tirania. O estágio político mais avançado conhecido pelos gregos certamente foi a democracia, desenvolvida sobretudo em Atenas. Alguns estudiosos definem a pólis como sendo uma comunidade de cidadãos que se autogovernam, porém, muitas pólis contavam com assembleias, magistrados e conselhos que preparavam as questões mais importantes a serem debatidas. O poder político e direito de participar das assembleias era exercido exclusivamente pelos aristocratas, isto é, donos de grandes extensões de terras e que também eram responsáveis pela justiça e segurança da pólis. Com o tempo o direito a cidadania foi ampliado a outros grupos sociais.
Os estudiosos acreditam que tenham existido cerca de 160 cidades-estados na Grécia Antiga. As principais foram Atenas, Esparta, Tebas, Mégara, Corinto, Argos e Mileto. Normalmente, a pólisencontrava-se protegida por muralhas. Na parte mais alta ficava a acrópole, espécie de fortaleza e onde estava o centro religioso. Além disso, havia a ágora, praça central onde se realizavam as assembleias do povo, e a asti, lugar onde se realizava o comércio. Muitas vezes, por suas profundas diferenças e especialmente pela concorrência comercial, essas cidades rivalizavam entre si, porém, mesmo assim, poderiam estar unidas por alguns elementos culturais em comum. Apesar dos dialetos regionais, os gregos falavam a mesma língua, cultivavam as mesmas crenças religiosas[4] e cultivavam o sentimento de serem superiores e diferentes dos bárbaros.[5] Uma forte marca da unidade cultural dos gregos são os jogos os olímpicos, dos quais varias cidades participavam.
As diferenças entre Atenas e Esparta
Apesar de podermos avaliar algumas características da civilização grega de forma geral, dentro do mundo grego existiam povos com diferentes costumes e tradições. A comparação entre as importantes cidades-estados de Atenas e Esparta mostra bem o contraste que poderia existir entre os gregos.
Atenas
Fundada pelos jônios, Atenas era uma pólis de navegadores, agricultores, filósofos, poetas e artistas localizada na parte central da península Ática, a poucos quilômetros do Mar Egeu. Devido aos solos pouco férteis, os atenienses desenvolveram o artesanato e, aproveitando-se das boas condições do litoral fortaleceram sua economia através da pesca, da navegação e especialmente do comércio marítimo.
Politicamente os atenienses adotaram vários sistemas para governar e organizar a sua pólis. Inicialmente, foi adotado um regime monárquico e Atenas era comandada por um rei que tinha ao mesmo tempo funções de juiz, sacerdote e militar. Depois disso o poder passou a ser ocupado por poucos representantes da aristocracia ateniense, os chamados “eupátridas” (bem-nascidos) de famílias nobres e grandes proprietários de terras. Esse pequeno grupo passou a ocupar os cargos públicos a tomar as decisões mais importantes. Com o tempo a situação gerou grande descontentamento, e pequenos proprietários e outros setores sociais passaram a depender cada vez mais economicamente dos eupátridas. Aqueles que não conseguissem pagar suas dívidas perdiam seus bens e podiam até mesmo tornarem-se escravos.
Depois da monarquia e da aristocracia, criou-se em Atenas a democracia. O político Clístenes promoveu uma série de reformas populares que asseguravam uma maior participação do povo no governo da cidade, fazendo nascer assim o sistema democrático. Os principais órgãos da democracia ateniense eram a Assembleia do povo (Eclésia) e o Conselho dos Quinhentos. Clístenes criou também o ostracismo, sistema que consistia em expulsar da cidade por dez anos qualquer pessoa que pudesse representar risco para a democracia. Entendemos hoje democracia como sendo governo do povo, ou como governo da maioria. Porém, devemos destacar que a democracia de Atenas não era para todos, já que escravos, mulheres e estrangeiros não eram considerados cidadãos e, portanto, não tinham o direito de participar da política. Assim, cerca de 80% da população de Atenas ficava excluída da vida democrática. Em seu auge Atenas foi governada por Péricles, chefe político durante quinze anos.
A sociedade em Atenas era dividida em três grupos. Os eupátridas, que eram os grandes e pequenos proprietários de terra, comerciantes e artesãos; os metecos, estrangeiros sem direito a propriedade, que pagavam impostos para viverem em Atenas e eram obrigados a prestar serviço militar; e os escravos, prisioneiros de guerra ou condenados por dívidas. Em comparação ao que acontecia em outras cidades gregas, as mulheres de Atenas tinham pouca liberdade e praticamente nenhuma participação social, sendo criada e educada basicamente para servir o mundo doméstico. Casavam-se muito cedo, entre 15 e 18 anos, conforme escolha feita pelos pais. Eram submissas ao marido e pouquíssimas vezes saiam de casa.
Os atenienses se dedicavam as atividades culturais como, por exemplo, o teatro e a poesia, e ainda as atividades ligadas a política. A educação em Atenas educação buscava conciliar a saúde física e o debate filosófico. Com 7 anos os meninos eram entregues aos cuidados de um pedagogo, enquanto as meninas ficavam sob a proteção da mãe até se casarem.
Esparta
Fundada pelos dórios, Esparta localizava-se na península do Peloponeso, região de terras próprias para o cultivo de vinha e oliveira. Cercada por montanhas, a pólis não tinha saída para o mar e assim os espartanos poucos desenvolveram o comércio. Em Esparta, a área urbana não tinha tanta importância quanto a área rural e a agricultura era a base da economia.
Politicamente os espartanos adotaram um sistema de governo que ficou definido comooligarquia, palavra de origem grega e que significa “governo de poucos”, ou governo exercido por uma minoria. Em Esparta haviam dois reis (diarquia), cada um representando uma família importante da cidade e que tinham poderes sobre assuntos religiosos e militares. Apesar desses reis, as decisões eram tomadas por três importantes órgãos. Ápela, assembleia da qual participavam espartanos de 30 anos ou mais que discutiam e votavam as propostas para a pólis; Gerúsia, conselho de anciãos que propunham leis, julgavam crimes e tomavam as decisões mais importantes. Por fim, noEforato, órgão formado pelos éforos, eleitos por um ano e que tinham o compromisso de colocar em prática as decisões da Gerúsia.
A sociedade em Esparta, assim como em Atenas, também estava dividia em três grupos sociais. Os esparciatas, como eram chamados os cidadãos, eram os grandes proprietários e os únicos que podiam ocupar cargos políticos e militares; os periecos, pequenos proprietários de terra e que se dedicavam ao artesanato. Eram livres, porém, sem direitos políticos e sem participação nos órgãos do governo; e os hilotas, escravos explorados pelos esparciatas. Considerados propriedade do governo, representavam a maioria da população e, , apesar da repressão que sofriam, sabe-se que se revoltaram com frequência. Em Esparta as mulheres ocupavam posição de destaque. Eram encarregadas pelas finanças domésticas e se envolviam nos assuntos políticos por poderem participar das reuniões públicas. Muito do papel que as mulheres espartanas ocupavam na sociedade está ligado ao caráter militarista que Esparta tinha. Os espartanos acreditavam que a mulher deveria estar fisicamente preparada para que pudesse dar origem a indivíduos capazes para compor o exército da pólis. Por isso, era comum as mulheres se dedicarem à disputa de jogos e outros tipos de atividade esportiva.
As grandes guerras e conquistas espartanas estão ligadas a própria formação da cidade. Procurando preservar as terras férteis e garantir a exploração do trabalho dos povos dominados, os espartanos se caracterizaram por valorizar muito mais as atividades militares do que as ligadas a formação de conhecimentos políticos, científicos e filosóficos. A educação, que era conduzida quase que totalmente pelo governo, buscava antes de tudo fazer de cada indivíduo um soldado destemido, disciplinado, leal e sempre preparado para defender os interesses de Esparta. Quando os meninos completavam sete anos de idade passavam a receber uma educação voltada totalmente para a arte militar e os exercícios tomavam a maior parte do tempo. Entre os 16 e 20 anos já estavam preparados para o ingresso no serviço militar participando de operações simuladas nas montanhas ao redor da pólis. Desse modo, o caráter militarista tornou-se a principal marca cultural de Esparta.
Economia
Agricultura, artesanato e comércio marítimo.
A economia na Grécia Antiga era dinâmica e, embora pudesse variar de uma pólis para outra, é possível apontarmos algumas características gerais. A agricultura, o artesanato e o comércio marítimo foram as principais atividades econômicas desenvolvidas pelos gregos.
Agricultura e pecuária: a agricultura era praticada nos vales férteis localizados entre as montanhas e foi a base da economia na Grécia Antiga. Uvas, azeitonas e cereais foram os produtos agrícolas mais cultivados pelos gregos. As uvas foram muito usadas na produção de vinho, enquanto as azeitonas na de azeite. Ervas e vegetais também eram cultivados. Porém, com o aumento populacional notado especialmente a partir do século V a.C, os gregos passaram a importar gêneros agrícolas e iniciaram o processo de conquista de novos territórios, como veremos. Na produção agrícola era comum o emprego de mão de obra livre e também escrava (devedores ou prisioneiros). Devido a falta de áreas que eram destinadas as pastagens, a atividade da pecuária não teve grande destaque entre os gregos. A criação de cabras e ovelhas foram as atividades pecuárias que mais se desenvolveram.
Artesanato: o artesanato foi uma importante atividade econômica. Os artesãos eram trabalhadores livres e se destacavam na fabricação de móveis, joias, roupas, sapatos, objetos de cerâmica, ferramentas e armas. Objetos de cerâmica foram muito produzidos pelos artesãos gregos, sendo as ânforas decoradas um dos principais elementos do artesanato. Estas ânforas eram usadas no transporte, principalmente, de azeite, perfumes e vinho.
Comércio Marítimo: o litoral recortado e a grande presença de ilhas favoreceram o desenvolvimento do comércio marítimo. Os gregos mantiveram contatos comerciais, com o Egito, estabeleceram colônias na Ásia, na Península Ibérica e em ilhas próximas e ainda em cidades ao longo do litoral do Mar Negro. Os principais produtos importados pelos gregos foram: linho, trigo, resina, papiro (principalmente do Egito), especiarias e madeira. Exportavam muito vinho, azeite e produtos de cerâmica. Os contatos e relações comerciais dos gregos com outras civilizações tiveram grande importância, pois supriam as necessidades das cidades-estados gregas, foram importantes para reduzir os conflitos gerados pelo aumento populacional e expandir a cultura grega. Várias cidades-estados gregas usaram moedas de metal (prata, bronze e liga de ouro e prata), que foi de fundamental importância para dinamizar o comércio grego.
Sociedade
A sociedade grega era marcada por profundas desigualdades sociais. Embora houvesse uma diferenciação na organização social de cada cidade-estado, no geral quase todas seguiam certo padrão. A partir da formação das pólis passou a ocorrer uma divisão cada vez maior entre as pessoas de acordo com a posição social. De um lado um grupo reduzido querendo manter seus privilégios e a posse das riquezas, de outro o grupo dos que eram explorados e não tinham posses ou direitos. De maneira geral podemos dizer que a sociedade na Grécia Antiga era dividida em três grupos:
Os cidadãos: Os homens livres e nascidos nas cidades-estados eram proprietários de terras, formavam a aristocracia rural, e possuíam uma boa condição econômica e social. Eram os únicos que possuíam direitos políticos. Vale lembrar que as mulheres e crianças de Atenas não eram considerados cidadãos e, portanto, não podiam participar da vida pública. Formavam a minoria da sociedade.
Os estrangeiros: Originários de outras cidades-estados, colônias ou regiões, os periecos trabalhavam com artesanato e comércio. Não podiam participar da vida pública de Atenas, pois não possuíam direitos políticos. Os periecos também não podiam ser proprietários rurais.
Os escravos: era a grande maioria da sociedade. Eram, principalmente, prisioneiros de guerras, capturados e comercializados. Executavam quase todo tipo de trabalho, desde atividades domésticas até trabalho pesado na extração de minérios. A base da mão de obra na agricultura também era escrava. Tinham uma vida marcada por sofrimento, pobreza e desrespeito. Em função destas condições, ocorreram várias revoltas sociais envolvendo os escravos gregos.
A expansão colonizadora dos gregos
Ainda durante o período Arcaico muitos gregos deixaram as pólis onde viviam para fundarem colônias nas regiões banhadas pelos mares Mediterrâneo, Egeu e Negro. A expansão territorial e colonização grega pode ser explicada de diversas maneiras. Após o século VIII a. C, devido ao progresso nas técnicas agrícolas que possibilitou o aumento da produção de alimentos, os gregos tiveram que enfrentar as consequências de um grande crescimento populacional. Com o aumento da população, as terras para a prática da agricultura foram ficando escassas e, para agravar a situação, a forma como uma minoria exercia domínio sobre a maior parte das terras e abusava de seus privilégios gerou uma série de conflitos internos. Para solucionar esses problemas os gregos foram obrigados a partirem em busca de novos territórios.
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