7.5 - As grandes navegações e a chegada dos europeus na América
No final da Idade Média o mundo que os europeus conheciam se resumia ao Oriente Médio, ao norte da África e a uma pequena parte da Ásia a qual chamavam de Índias. E mesmo assim esse conhecimento era restrito e obtido muitas vezes graças as expedições dos cruzados, relatos da Bíblia ou de navegadores, como Marco Polo.[1] Assim, a Oceania e as Américas eram totalmente desconhecidas pelos europeus. As informações a respeito de terras e oceanos eram muitas vezes fantasiosas. Havia a crença na existência de monstros marinhos, sereias que enfeitiçavam marinheiros e pontos que terminavam em um inesperado abismo. Foi no começo do século XV que os europeus puderam e ao mesmo passaram a ter maior necessidade de explorar “o mar tenebroso”, como chamavam o Atlântico, dando início a processo de expansão marítima ou então a Era das Grandes Navegações.
AS MUDANÇAS ECONÔMICAS, SOCIAIS, POLÍTICAS
E CULTURAIS NA EUROPA
Durante os séculos XV e XVI mudanças na economia, na política e na sociedade empurraram os europeus a partirem em busca de novas descobertas e conquistas. Nessa corrida por novas possibilidades, primeiro Portugal, e depois Espanha, largaram na frente. O Planeta finalmente seria conhecido por completo. Tanto conquistadores como conquistados teriam suas vidas radicalmente modificadas. A Europa tinha a necessidade de crescer economicamente, de expandir-se, de buscar solução para seus problemas internos. A partir dessa necessidade novas rotas comerciais foram descobertas e teve início a conquista colonial da América.
MUDANÇAS CULTURAIS
O Renascimento, além de mudar o comportamento do homem em relação a sua maneira de pensar e de conduzir sua própria vida, permitiu um grande avanço tecnológico e cientifico. O conhecimento geográfico foi ampliado e os “medos” de encarar os oceanos foram sendo superados na medida em que a curiosidade pelo desconhecido foi aumentando. Além disso, inovações como o astrolábio, a bússola, mapas geográficos mais completos, a invenção da caravela e novas técnicas de navegação permitiram a chegada dos europeus em terras desconhecidas. Até mesmo a pólvora, trazida do oriente, seria de grande utilidade para os conquistadores garantirem a posse das terras que encontrariam. Principalmente a partir da Reforma Protestante as autoridades católicas passaram a apoiar as iniciativas que buscavam descobrir novas terras pelo interesse em propagar a fé cristã, ou seja, conquistar novos fiéis fora da Europa.
MUDANÇAS POLÍTICAS
Com a crise do feudalismo passaram a se formar na Europa as primeiras Monarquias Nacionais ocorrendo assim a centralização do poder político. Com o apoio da burguesia e da nobreza os reis puderam se fortalecer no poder. Essa mudança foi decisiva para o processo de expansão marítima, já que as expedições exigiam investimentos elevados que só poderiam ser feitos pelo governo. Portanto, a união de interesses entre rei e comerciantes burgueses possibilitou a arrecadações de recursos necessários para iniciar o período das Grandes Navegações. Para os reis, expandir as relações comerciais para fora da Europa significava fortalecer-se no poder estabelecendo colônias, para a burguesia, era uma possibilidade de novos consumidores e de maiores lucros.
NECESSIDADES ECONÔMICAS E SOCIAIS
No decorrer do século XV os europeus enfrentavam séria crise econômica. Na época o comércio de produtos que eram trazidos do Oriente era muito rentável. As chamadas especiarias orientais (pimenta, gengibre, canela, cravo, noz-moscada, açúcar, açafrão etc.), e os artigos de luxo (porcelanas, tecidos finos de seda, marfim, perfumes etc.) eram revendidos em toda a Europa proporcionando grandes lucros.
Esse comércio, que era realizado pela rota do Mar Mediterrâneo entrou em declínio quando mercadores das cidades de Gênova e Veneza, na Península Itálica, passaram a ter prioridade sobre esse comércio e a cobrar altas taxas de pedágios sobre viajantes de regiões mais distantes. Essa situação encarecia o preço do produto e diminuía o lucro dos comerciantes tornando necessária a busca de um novo caminho para o Oriente. Além disso, havia na Europa carência de metais preciosos para cunhar moedas e os europeus sofriam com a falta de gêneros alimentícios e de matérias primas. Parte desses problemas poderiam ser solucionados através da ampliação de mercados fora do continente europeu. As dificuldades se agravavam ainda mais devido ao alto índice demográfico. O aumento populacional na Europa trouxe problemas sociais e, nesse sentido, a descoberta e conquista de novas terras poderia solucionar parte desse problema.
O pioneirismo de Portugal e as primeiras conquistas
Vários fatores contribuíram para Portugal ter sido o primeiro a se aventurar em busca de novas terras fora da Europa. Entre os principais podemos citar:
Centralização política: Portugal foi o primeiro país da Europa a se consolidar como uma monarquia nacional após expulsar os muçulmanos da Península Ibérica nas chamadas Guerras de Reconquista. A partir de 1385 Portugal passou a ser governado por dom João I, da dinastia de Avis. Ligado aos interesses da burguesia, passou a financiar as viagens de expansão marítima. Além disso, a ausência de guerras permitiu os portugueses fazerem maiores investimentos na navegação.
Posição geográfica favorável e forte relação com o mar: a posição de Portugal facilitava a navegação já que toda a sua costa oeste pelo oceano Atlântico. Os portugueses já vinham há muito tempo explorando os mares próximos de seu litoral se dedicando principalmente as atividades pesqueiras, com destaque para a pesca de bacalhau e sardinha. Essa era uma das principais atividades econômicas de Portugal.
Desenvolvimento náutico: a partir de 1416, por iniciativa do infante dom Henrique, filho do rei dom João I, os portugueses reuniram em Sagres (região ao sul de Portugal) geógrafos, astrônomos, cartógrafos, matemáticos e os mais experientes navegadores e aventureiros que passaram a desenvolver novas técnicas de navegação e aperfeiçoar instrumentos e embarcações. Os historiadores chamam o encontro desses especialistas de Escola de Sagres.
Expansão marítima dos portugueses
Os portugueses alcançavam grandes lucros com o comércio de especiarias e artigos de luxo trazidos do Oriente. Esse comércio dependia basicamente da navegação pelo Mediterrâneo e passou a entrar em declínio quando os árabes passaram a controlar as caravanas que levavam pelos desertos os produtos do Oriente até os portos do Mediterrâneo, e quando genoveses e venezianos monopolizaram a distribuição desses produtos pela Europa. Com essa dificuldade tornava-se cada vez mais necessário encontrar um novo mercado possuidor dos produtos desejados ou um novo caminho para o Oriente. A estratégia era explorar o oceano Atlântico, o continente africano e contornar a África para chegar às Índias. Essa iniciativa foi tomada pelos portugueses em 1415, com a conquista de Ceuta, no norte da África. Embora essa conquista não tenha na prática permitido grandes vantagens comerciais, representou uma importante vitória já que os portugueses passaram a ter domínio sobre o estreito de Gibraltar.
Ao longo da extensão do litoral africano os portugueses foram fundando feitorias e nas ilhas conquistadas, como a da Madeira, Açores e Cabo Verde, onde investiram na produção de cana de açúcar e na pecuária, atividades sustentadas no trabalho escravo africano. Foi a primeira vez que os portugueses adotaram o sistema de capitânias hereditárias. O principal objetivo dos navegadores portugueses continuava sendo dar a volta no continente africano, ou seja, realizar o périplo africano. No ano de 1488, Bartolomeu Diasconseguiu chegar ao Cabo da Boa Esperança, provando para o mundo que existia uma passagem para outro oceano. Finalmente, no ano de 1498, o navegador português Vasco da Gama alcançou as Índias.
Os portugueses chegam ao Brasil
Após Vasco da Gama ter encontrado as Índias Orientais, navegando pela costa africana, o rei de Portugal, D. Manuel, decidiu enviar uma expedição para estabelecer relações comerciais com o Oriente. A esquadra seria composta por 13 navios e contaria com uma tripulação de cerca de 1400 homens. Além de soldados, padres e comerciantes, estavam na comitiva experientes navegadores como Gaspar de Lemos e Bartolomeu Dias. O comandante da esquadra seria o jovem Pedro Álvares Cabral, de apenas 32 anos. Os portugueses saíram de Lisboa em 09 de março de 1500 tendo como destino, Calicute, na Índia. Entretanto, a frota se afastou a costa africana e, navegando no sentido leste chegou no dia 22 de abril em uma nova terra, mais tarde chamada de Brasil. Certamente a chegada da esquadra de Cabral ao Brasil foi a parte mais importante da expansão marítima portuguesa. No dia 24 de abril, dois dias após a chegada, ocorreu o primeiro contato entre os indígenas que habitavam a região e os portugueses. De acordo com os relatos da Carta de Pero Vaz de Caminha [2] - que é umas das principais fontes para sabermos sobre esse momento - foi um encontro pacífico e de estranhamento, devido a grande diferença cultural entre estes dois povos.[3]Além de detalhar os primeiros contatos, a carta destaca aspectos da viagem.
Existe ainda hoje uma grande discussão a respeito da chegada dos portugueses ao Brasil. Apesar de alguns afirmarem que foi mero acaso, ou seja, um erro de percurso da frota de Cabral, existem indícios que mostram o contrário. Vale lembrar que os espanhóis, como veremos adiante, haviam chegado à América em 1492 e que portanto poderia sim existir em Portugal o plano de se encontrar o “novo mundo”, como os europeus chamaram a terra encontrada. Além disso, a assinatura do Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494 entre os governos de Portugal e Espanha, indica a possibilidade de os portugueses já terem algum conhecimento sobre terras ainda desconhecidas pelos europeus. Como acreditavam que a terra “descoberta” se tratava de uma ilha, a nomearam de Ilha de Vera Cruz, primeiro nome dado ao futuro Brasil.
Mesmo encontrando uma nova terra e tendo esperança de nela encontrarem grandes quantidades de riquezas, em especial metais preciosos, os portugueses continuavam mais interessados no comércio com as Índias. Por um bom tempo os portugueses vão usar o Brasil como uma espécie de entreposto comercial onde realizava a extração do pau-brasil. Somente a partir de 1530, com a expedição organizada por Martin Afonso de Souza, que a coroa portuguesa começou a interessar-se pela colonização da nova terra.
PESQUISA: biografia de Pedro Alvares Cabral
Expansão marítima dos espanhóis
A Espanha também teve destaque no processo de descobertas e conquistas marítimas e ao lado de Portugal vai tornar-se uma das principais potências do período. Em relação aos portugueses, os espanhóis se atrasaram na corrida da expansão marítima pelo fato de a luta para expulsar os mouros da Península Ibérica ter se estendido até o final do século XV. Em 1492, quando finalmente derrotaram os mouros, os reis espanhóis, Fernando e Isabel, passaram a fazer investimentos nas expedições marítimas. Apesar de terem iniciado a busca por novos territórios fora da Europa décadas depois dos portugueses, foram os espanhóis os primeiros a chegarem à América.
Enquanto os portugueses procuravam o caminho para as Índias contornando o continente africano, os espanhóis optaram por outro caminho. Convencido de que o planeta era de fato redondo, o genovês Cristóvão Colombo, financiado pela Espanha, pretendia chegar às Índias navegando para o oeste. [4]
No dia 03 de agosto de 1492, sem imaginar que encontrariam um novo continente entre a Europa e a Ásia, os espanhóis, comandados por Colombo, iniciaram a travessia do Atlântico com as caravelas Santa Maria, Pinta e Niña. Dois meses depois, no dia 12 de outubro, acreditando terem chegado as Índias, a comitiva ancorou em uma ilha, batizada por Colombo com o nome de San Salvador. Ao desembarcarem os espanhóis fixaram as bandeiras reais e o escrivão da Armada, Rodrigo de Escobedo, redigiu documento de posse da terra.
Por mais de três meses a comitiva espanhola percorreu a região, de ilha em ilha. Embora não encontrassem as riquezas deslumbrantes descritas pelo viajante Marco Pólo, os espanhóis continuavam acreditando ter atingido as Índias. Por esse equivoco os nativos acabaram sendo chamados de índios. Foi somente anos mais tarde que o navegador Américo Vespúcio identificou as terras como sendo um continente ainda não conhecido dos europeus, que passou a ser chamado em sua homenagem de América. Além de Colombo e de Américo Vespúcio podemos citar outros dois navegadores importantes navegadores que participaram das conquistas ou descobertas marítimas da Espanha: Vasco Nunez, que atingiu o oceano Pacífico, e Fernão de Magalhães que em 1521 foi o primeiro a completar a volta ao mundo. A “descoberta” da América modificou completamente o pensamento de que o mundo era formado por três blocos de terra: Ásia, Europa e África, cercados por um grande e único oceano.
PESQUISA: América, quem chegou primeiro? PESQUISA: Fenícios no Brasil?
Os tratados entre Portugal e Espanha
Havia grande rivalidade entre Portugal e Espanha pela conquista de novas terras e mercados fora da Europa. Tentando evitar conflitos mais sérios, as duas coroas assinaram vários tratados que estabeleceram regras no processo de descoberta e direito sobre novos territórios. Em 1480 foi assinado o Tratado de Toledo, que garantia a Portugal a posse de todas as terras que fossem encontradas o sul das ilhas Canárias.
A disputa entre os dois países tornou-se ainda mais acirrada a partir da chegada de Colombo na América. O governo da Espanha tratou de assegurar seus direitos sobre a terra encontrada e sobre outras que ainda poderiam ser encontradas através da Bula Inter Coetera, assinada pela papa Alexandre VI em 1493 e que estabelecia um meridiano a 100 léguas a oeste de Cabo Verde e que dividia a América entre Portugal e Espanha. As terras que fossem encontradas a oeste desse meridiano iriam pertencer aos espanhóis, as que fossem encontradas a leste pertenceriam aos portugueses. Por essa divisão a Espanha assegurava a posse de toda a América restando a Portugal explorar as terras africanas. O governo português não aceitou a bula e exigiu uma nova divisão. Procurando uma solução os reis de Espanha e Portugal assinaram em 1494 o TRATADO DE TORDESILHAS. Pelo Tratado de Tordesilhas foi traçada uma nova linha imaginária situada a 370 léguas a oeste da ilha de Cabo Verde. As terras a oeste dessa linha pertenceriam a Espanha, enquanto que as terras a leste seriam de Portugal. O tratado dividiu o “mundo descoberto” entre espanhóis e portugueses, deixando naturalmente insatisfeitos franceses e ingleses que foram excluídos da partilha.
A expansão marítima de Inglaterra, França e Holanda
A descoberta de um novo caminho marítimo para as Índias e a chegada de Colombo à América provocaram a cobiça de outras importantes nações europeias. A consolidação de Inglaterra, França e Holanda como monarquias nacionais foi mais tardia do que a de Portugal e Espanha, o que explica, em partes, o atraso desses países na corrida da expansão marítima. [5] Quando estiveram em condições e passaram a almejar a busca por novos territórios, ingleses, franceses e holandeses passaram a questionar a validade do Tratado de Tordesilhas e ameaçar o controle que Portugal e Espanha tinham sobre a América.
Sem condições de concorrer com os países ibéricos que já dominavam as rotas do Atlântico Sul, Inglaterra, França e Holanda concentraram seus esforços no Atlântico Norte. Assim como portugueses procuraram por quase um século uma passagem para as Índias explorando o hemisfério sul, várias expedições foram organizadas com o objetivo de atingir o Oriente explorando o hemisfério Norte. [6]
O caminho até as Índias não foi encontrado, porém possibilitou a ocupação e exploração da América do Norte, especialmente pela Inglaterra a partir de 1585. Pelo tratado de Tordesilhas, esse território pertenceria a Espanha. Como espanhóis ainda não haviam conquistado a porção norte do “novo mundo”, franceses e principalmente ingleses fizeram valer o principio do direito internacional conhecido como utti possidetis, pelo qual o direito sobre a terra é daquele que a ocupa.
Superado o estágio de reconhecimento e de conquista os ingleses iniciaram a colonização. Em 1620 um grupo de ingleses, muitos deles puritanos que fugiam das perseguições religiosas ou então procuravam uma nova oportunidade de vida, fundaram a cidade de Plymouth, no atual estado de Massachusetts. A partir disso se formaram no norte as chamadastreze colônias, conhecidas também como a Nova Inglaterra. O inverno rigoroso do norte impedia a produção de gêneros como algodão e tabaco, por exemplo. Desse modo, as terras mais ao sul passaram a ser mais valorizadas pelos colonos ingleses.
Os franceses fundaram povoamentos bem ao norte da América, onde atualmente é o Canadá. Ao avançar para o interior os franceses fundaram a Nova França. Ao ocuparam o vale do rio Mississipi criaram a Louisiana e o principal povoado francês na região foi Nova Orleans, fundado em 1717. A grande dificuldade em se encontrar caminhos marítimos distantes dos controlados pelos portugueses e espanhóis levou os reis da França e da Inglaterra a incentivarem a pirataria. Protegidos pelos reis de seus países, esses salteadores dos mares passaram ficaram conhecidos como corsários e em troca da proteção oficial parte do que pilhavam dividiam com a própria Coroa.
A Holanda também teve um breve período de ocupação na América do Norte quando fundaram, em 1626, a Nova Amsterdã. Porém, a presença holandesa na região vai ser maior devido aCompanhia das Índias Ocidentais[7], que vai ter o monopólio do comércio holandês na América. Na América do Sul os holandeses vão atacar e ocupar por um tempo territórios que pertenciam a Portugal, no Brasil. Em 1664 os ingleses conquistaram a Nova Amsterdã e a renomearam de Nova York.
Colonização inglesa Colonização francesa Colonização holandesa
A história dos povos americanos não se iniciou com a chegada dos europeus, no século XV. Quando estes desembarcaram no continente encontraram várias sociedades. Algumas mais desenvolvidas, como a asteca e a inca, por exemplo, dominadas por espanhóis, e outras mais primitivas que foram encontradas especialmente por portugueses. Ao longo dos séculos a ação do colonizador europeu acabou eliminando grande parte dos vestígios desses povos.
Aos olhos dos europeus, os nativos americanos precisavam ser conduzidos ao mesmo padrão de cultura deles, ou seja, precisavam ser convertidos ao cristianismo, responder a um rei e ter os mesmos costumes. No início, o contato entre europeus e os nativos foi marcado pelo estranhamento. Para os europeus, ver homens e mulheres despidos era tão diferente quanto era para os índios ver aquela gente que vestia roupas pesadas, usava barba e montava animais desconhecidos. Europeus não entendiam por que o ouro não significava para os povos da América a mesma coisa que significava para eles. A cobiça pelo ouro - tão natural para os europeus - era incompreensível para os ameríndios. A conquista violenta e a ocupação do território pelos europeus tratariam de demonstrar quanto eram diferentes essas duas culturas.
Para dominar os Impérios Inca e Asteca, os espanhóis realizaram uma verdadeira guerra de conquista. Muitas pessoas morreram e a maioria dos sobreviventes foi submetida a trabalhos pesados nas minas e plantações espanholas da América. O contato com os portugueses não foi menos devastador. Para os nativos, a sensação de estranhamento deu lugar ao medo, e para os europeus deu lugar à dominação. Ao longo do século XVI, verificou-se um dos maiores genocídios da História.
A conquista da América
Embora não sejam números precisos, acredita-se que antes da chegada dos conquistadores europeus havia em todo continente americano cerca de 80 milhões de habitantes. Para termos uma ideia do que esse número representa, nessa mesma época Portugal e Espanha juntos tinham um pouco mais de 10 milhões de habitantes. Vamos ver a seguir de que maneira os europeus puderam dominar os povos que habitavam a América mesmo estando em minoria absoluta, lembrando que as estratégias de conquista utilizadas por espanhóis e portugueses não foram sempre as mesmas. Vamos destacar dois pontos que normalmente explicam o domínio europeu sobre os povos americanos.
SUPERIORIDADE MILITAR e DOENÇAS:
As armas dos conquistadores eram mais resistentes e principalmente mais eficientes do que a dos povos americanos. Especialmente os espanhóis fizeram uso de armas de fogo como arcabuzes e canhões, e ainda utilizaram o cavalo nos combates, que lhes garantiam maior mobilidade nos combates. Essas armas e mesmo o cavalo, eram desconhecidas pelos indígenas que utilizavam arcos, flechas envenenadas, lanças, e atiradeiras de pedra que não tinham, obviamente, a mesma eficiência. Além disso, os europeus puderam se aproveitar darivalidade que existia entre os diversos grupos que ocupavam o território e dos conflitos que existiam entre eles. Em outras palavras, em muitos casos o próprio indígena se tornava um aliado na conquista.
Deve se considerar também o grande número dedoenças contagiosas que foram trazidas pelos europeus. O sarampo, a tifo, a coqueluche, a varíola, a malária e até mesmo a gripe foram trágicas para os nativos que não tinham resistência contra essas epidemias e não sabiam como combatê-las. Muitos acreditavam estar sendo castigado pelos deuses.
DOMINAÇÃO CULTURAL:
Como vimos, a chegada dos europeus na América significou o encontro entre sociedades completamente diferentes em todos os sentidos. Os povos americanos foram forçados a mudar completamente seu modo de vida em função das necessidades e ganância do europeu. Os conquistadores alteraram profundamente o modo de vida dos nativos, modificando o ritmo de trabalho, forçando-os a trabalhos que nunca haviam feitos e deslocando populações inteiras para regiões diferentes e distantes.
A religião foi outro importante elemento de dominação cultural dos indígenas. Tanto portugueses quanto espanhóis procuraram impor o cristianismo aos povos nativos, que tiveram suas crenças completamente ignoradas.. Os espanhóis chegaram a construir igrejas sobre templos religiosos dos astecas, por exemplo. Nesse processo, aCompanhia de Jesus e a chegada dos padres jesuítas com o compromisso de organizar aldeamentos e catequizar o nativos teve grande importância.
O impacto da conquista
Os efeitos da conquista da América para europeus e americanos
A chegada do europeu na América foi um acontecimento único e provocou um grande choque de culturas. Sendo assim, as consequências, tanto para conquistados como para conquistadores foram profundas. A principal e mais trágica consequência para os povos nativos da América certamente foi oextermínio das populações que não aceitavam a dominação. Além disso, os europeus impuseram aos povos americanos costumes que afetaram profundamente aspectos culturais e a sobrevivência de centenas de comunidades. Populações inteiras foram exploradas ao serem forçadas a trabalhar para os conquistadores e tiveram seus registros históricos e culturais destruídos. Na Europa as mudanças também foram profundas, porém, estiveram longe de serem trágicas. Entre as principais podemos citar:
- Houve grande aprimoramento nas técnicas ligadas a navegação e ampliou-se o conhecimento geográfico.
- Mudança do eixo econômico do Mediterrâneo para o Atlântico. ampliação de mercados e fortalecimento da burguesia mercantil e estimulo a produção de manufaturas para abastecer as colônias na América.
- Acúmulo na Europa de grandes quantidades de metais preciosos (ouro e prata) e fortalecimento das monarquias nacionais.
- Emigração de parte da população europeia para a América, colaborando na solução de parte dos problemas sociais da Europa.
- Maior competição econômica entre os países europeus e aumento pela busca do lucro.
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