terça-feira, 29 de março de 2016

8.2 - A Revolução Industrial (1ª fase)


Até o século XVII a economia era essencialmente agrícola e as pessoas almejavam ou se contentavam com três coisas: comida, roupa e moradia. E tudo isso vinha da terra. Entretanto, a partir da segunda metade do século XVIII, influenciado pela mudança no modo de pensar que foi incentivada pelo Iluminismo, teve início na Europa um processo de grandes mudanças na forma de se produzir. Aos poucos, pequenas oficinas de artesanato foram sendo substituídas pelas fábricas e simples ferramentas trocadas por máquinas. Ao conjunto de transformações tecnológicas e profundas mudanças sociais, econômicas e culturais que alteraram a vida de milhares de pessoas chamamos de Revolução Industrial.[1] A principal característica dessa revolução, como veremos, foi a mudança na forma de produzir, comercializar e transportar mercadorias. Durante a Revolução Industrial foi inaugurado a fase do capitalismo industrial.[2]


Os diferentes estágios da produção

Produção artesanal – Inicialmente a produção se dava por meio do artesanato. Nesse estágio, surgido há milhares de anos, era o produtor (artesão) que controlava todas as etapas da produção. Ele era o dono da matéria-prima, das ferramentas que utilizava em sua produção e do produto final que normalmente já havia sido encomendado por alguém ou seria negociado.

Produção Manufatureira – Na Idade Média muitos trabalhadores passaram a trabalhar para um único comerciante, que fornecia a matéria-prima, as ferramentas e pagava um salário aos trabalhadores. A partir do século XVI, com a expansão comercial e urbana, os comerciantes perceberam que seria possível lucrar mais se fosse ampliada a produção de mercadorias. A produção passou a ser feita em manufaturas, oficinas que ainda não possuíam máquinas, porém, contavam com um grande número de operários e ferramentas. Diferente da produção artesanal, na produção manufatureira havia um gerente que coordenava todo o processo de produção. Nesse estágio o trabalho passou a ser dividido de forma racional e cada trabalhador passou a assumir uma tarefa especifica no processo de produção. O objetivo principal era acelerar a produção.

Produção Mecanizada – A partir das grandes navegações o comércio entre diferentes regiões teve grande crescimento e para esse comércio continuar prosperando era necessário aumentar ainda mais a produção de mercadorias. Devido a essa necessidade, depois da produção artesanal e manufatureira, a produção passou ser feita com o uso de máquinas e em fábricas. Os avanços técnicos foram fundamentais para a criação das primeiras máquinas industriais. Uma característica marcante desse modo de produção foi a substituição de várias ferramentas e do trabalho de muitos operários.

As fases da revolução

A Revolução Industrial pode ser dividida em três fases. A primeira revolução marcou o predomínio
da Inglaterra e foi aproximadamente de 1750 a 1830. Essa fase é marcada pela produção têxtil de algodão, pelo desenvolvimento da siderurgia e pelo uso da energia a vapor. Esses avanços chegaram a outros países da Europa e nos Estados Unidos.  
 A chamada Segunda Revolução Industrial teve início por volta de 1870 e se estendeu aproximadamente até 1940. Os principais avanços técnicos e científicos, desenvolvidos primeiramente pelos norte-americanos, se espalharam pelo continente europeu e chegaram também ao Japão.Nesse período, o aço tornou-se a matéria prima básica, a indústria química e metalúrgica tiveram grande avanço e a energia elétrica e os combustíveis derivados do petróleo tornaram-se as principais fontes de energia. Muitos desses avanços puderam ser notados no decorrer da Primeira e especialmente Segunda Guerra Mundial.
Muitos autores defendem a ideia de que atualmente vivemos na época da Terceira Revolução Industrial, iniciada alguns anos após a Segunda Guerra Mundial e notada mais nitidamente a partir de 1970. Essa fase apresenta processos tecnológicos decorrentes de uma integração entre ciência e produção. O trabalho passou por uma profunda reestruturação e as atividades que mais se destacam estão vinculadas à produção de computadores, softwares, microeletrônica, chips, transistores, circuitos eletrônicos, além da robótica com grande aceitação nas indústrias.
       Nesse módulo, trataremos dos avanços da Primeira Revolução Industrial por estar indiretamente relacionada às mudanças promovidas pelo iluminismo e se dar na mesma época da Revolução Francesa, que estudaremos a seguir.

O pioneirismo inglês

A Inglaterra foi o primeiro país europeu a dar início ao processo de revolução na forma de se produzir. Esse pioneirismo inglês pode ser explicado pela soma de um conjunto de fatores.

Acúmulo de capitais: muito antes do início da revolução vários governos da Inglaterra já haviam tomado providências favoráveis ao desenvolvimento econômico do país. Durante os séculos XV e XI os ingleses formaram uma grande rede comércio com as colônias ultramarinas da qual obtinham grandes lucros. Além disso, a Inglaterra tornou-se a principal potência naval do mundo e predominava no país um espírito calvinista[3] que não condenava o lucro. A burguesia inglesa tinha capital suficiente para financiar as fábricas, adquirir matérias-primas e máquinas e contratar empregados. Nesse processo, a Revolução Gloriosa (1688)[4] teve grande importância para o desenvolvimento do capitalismo na Inglaterra. 

Modernização da agricultura: A partir do século XVI os ingleses introduziram importantes mudanças no campo, como a introdução do sistema de cultivo de rotação em três campos e a prática dos cercamentos no confinamento dos animais. Essas inovações tiveram vários resultados: aumento da produção agrícola e a expulsão dos camponeses de suas terras. A maior quantidade de alimento foi fundamental para alimentar a população que crescia rapidamente e os camponeses tornaram-se mão de obra barata para trabalhar nas fábricas que surgiam nas cidades.

Crescimento populacional: a grande oferta de trabalhadores que seriam explorados nas fábricas foi possível graças ao aumento da produtividade agrícola e ao combate às epidemias que permitiu o aumento populacional.

Abundância de ferro e de carvão: os ingleses tinham uma vantagem que poucos países da Europa tinham: a existência de ricas minas de carvão e de ferro, essenciais para a obtenção de energia e fabricação das máquinas industriais.

Posição geográfica favorável: Por fim, a Inglaterra ainda podia se beneficiar de sua favorável posição geográfica. O fato de ser uma ilha facilitou o desenvolvimento do comércio marítimo da Inglaterra e o escoamento de sua produção.


A PRIMEIRA FASE DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
       
  O principal aspecto que diferencia a espécie humana de qualquer outra criatura que habita o planeta é a sua capacidade de criação. Nos milhares de anos de evolução, da pré-história ao nosso tempo atual e diante das mais variáveis dificuldades ou necessidades, o homem descobriu e desenvolveu diferentes materiais, objetos e ferramentas que modificaram totalmente a maneira como vivemos. Durante a Idade Moderna as descobertas passaram a ocorrer de forma mais rápida e cada uma delas, de uma forma ou de outra, contribuíram para uma verdadeira revolução.
 A primeira fase da Revolução Industrial teve início na Inglaterra, ocorreu entre a segunda metade do século XIX e início do século XX e foi marcada pela descoberta de novas tecnologias que transformaram rapidamente a vida do homem, especialmente no modo de produzir e transportar mercadorias. A primeira Revolução Industrial teve duas importantes características: a utilização do carvão como meio de fonte de energia e o minério de ferro como principal matéria prima.[5] 
  A partir desses componentes se desenvolveram a máquina a vapor, determinantes para dinamizar o transporte de matéria-prima, pessoas e distribuir mercadorias. A locomotiva, além da navegação marítima, também movida à energia do vapor do carvão, modificaram profundamente o sistema de transportes. O principal setor industrial a usufruir dessas novas tecnologias foi o da produção de tecidos, produzidos artesanalmente antes da revolução.
 Na Inglaterra, especialmente em grandes centros como Manchester, por exemplo, as máquinas de fiar representaram grande avanço na produção têxtil. A matéria prima vinha das colônias (Índia e Estados Unidos). Cerca de 90% dos tecidos ingleses de algodão eram vendidos o exterior, o que teve papel determinante na arrancada industrial da Inglaterra. Em 1776 os Estados Unidos declarou sua independência, o que representou uma grande perca para os ingleses.
A mecanização se estendeu do setor têxtil para a metalurgia, para os transportes, para a agricultura e para outros setores da economia. Diversos inventos revolucionaram as técnicas de produção, alteraram a economia o transporte e a comunicação. 

ALGUMAS DAS PRINCIPAIS DESCOBERTAS E INVENÇÕES DA PRIMEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

1733 – Lançadeira volante. Foi  inventada por John Kay e permitia o aumento da capacidade de tecelagem e de tecidos mais largos. A partir da lançadeira volante outras máquinas forma inventadas.  

      1735 – Produção do ferroEm 1735, na Inglaterra, Abraham Darby utilizou o carvão mineral em lugar do carvão vegetal para fundição de ferro. Com este procedimento, a qualidade do ferro.  Em 1847 tal feito foi divulgado, embora desde 1840, Darby utilizaria regularmente o processo para obter o ferro de maneira industrial. A produção industrial do ferro mudou o mundo. A partir de 1760 a produção aumentou e o ferro passou a ser usado em escala maior,  primeiramente na construção de ferrovias e pontes

1763 - Máquina de fiar.  Desenvolvida por James Hargreaves. Chamada de spinning jenny, a máquina transformava em fios as fibras têxteis de algodão, seda e lã, para o fabrico de tecidos. Essa invenção revolucionou a técnica de produção e substituiu a roca, um dos mais simples e antigos instrumentos de fiar. 

Steam engine in action.gif 1770 – Máquina a vaporDiversos nomes se destacam no histórico do desenvolvimento da máquina a vapor. Os principais são os ingleses James Watt e ThomasNewcomenO uso da máquina na indústria de tecido, nas usinas de carvão mineral, na industrialização do ferro, nas embarcações (navios a vapor), nas estradas de ferro (locomotiva a vapor), entre outras, representou uma revolução no transporte de passageiros e cargas.  















1785 – Tear mecânico. Edmund Cartwrigt desenvolveu o tear mecânico. A máquina de Cartwrigt produzia o equivalente ao trabalho de duzentas pessoas. Em 1825, Richard Robertsconectou um vapor nesse tear, o que permitiu aumentar ainda mais a produção de tecidos. 


1807 – Navio a vapor. A invenção da máquina a vapor permitiu outros inventos de grande importância para a humanidade. Os primeiros ensaios para se construir um navio a vapor começaram na década de 1780 simultaneamente na França, nos Estados Unidos e na Inglaterra. Por fim, acabou sendo mesmo desenvolvido pelos norte-americanos. O primeiro a conseguir foi Claude François. Seus projetos demonstraram a viabilidade da navegação a vapor. Em 1787 se fabricou nos Estados Unidos o primeiro barco a vapor com propulsão por hélices. O norte americano Robert Fulton, é reconhecido como o primeiro a conseguir desenvolver um barco a vapor bem sucedido.   A partir de 1824 a aplicação da máquina a vapor na navegação se generalizou. Os navios a vapor dominaram o cenário da navegação até o final da Segunda Guerra Mundial. A partir da invenção e utilização do motor a diesel, mais econômicos, e do desenvolvimento da aviação, eles foram perdendo sua importância. 













1814 – Locomotiva a vapor.   A primeira locomotiva a vapor usando trilhos foi construída pelo engenheiro inglês Richard Trevithick em fevereiro de 1804. A locomotiva conseguiu puxar cinco vagões com dez toneladas de carga e setenta passageiros à velocidade  de 8 km por hora.  O passo maior para o desenvolvimento da locomotiva foi dado, entretanto, pelo inglês George Stephenson no ano de 1814. A partir daí as locomotivas tiveram rápido desenvolvimento, especialmente com o uso do diesel e, mais tarde, da eletricidade. O uso da locomotiva representou uma das mais profundas conquistas da Revolução Industrial tornando-se essencial para o transporte de mercadorias e passageiros. Ainda hoje, em alguns países, o uso da locomotiva é de grande importância. 
























1834 – motor elétrico, O ano de 1886 pode ser considerado, como o ano de nascimento da máquina elétrica, pois foi nesta data que o cientista alemão Werner von Siemens inventou o primeiro gerador de corrente contínua auto-induzido. Entretanto esta máquina que revolucionou o mundo em poucos anos, foi o último estágio de estudos, pesquisas e invenções de muitos outros cientistas. Em 1834 Thomas Davenport projetou um motor forte o suficiente para girar uma pequena máquina de impressão. Em 1838, Moritz-Hermann De Jacobi desenvolveu um motor elétrico e o usou num bote. Alimentado por células de baterias, o bote transportou 14 passageiros e navegou em uma velocidade de 4,8 quilômetros por hora. 



1837 – Telégrafo. Foi o primeiro aparelho que permitiu a comunicação à distância através de fios e da eletricidade. Esse aparelho foi inventado, em 1837, pelo norte americano Samuel Morse. Em 1844, Morse transmitiu a primeira mensagem telegráfica pública e demonstrou como o telégrafo era capaz de enviar sinais rapidamente e a grandes distâncias.  Durante os 100 anos seguintes, o telégrafo se tornou o meio padrão de comunicação para longas distâncias.


1839 – máquina fotográficaprimeiro equipamento fotográfico fabricado em escala comercial da história foi criado em 1837 por Louis Jacques Mandé Daguerre e fabricado por Alphonse Giroux. A máquina foi apresentada publicamente na França em 1839 e no mesmo ano o governo do país declarou o invento como domínio público. Aos poucos as primeiras dificuldades técnicas foram sendo superadas e a fotografia ganhou grande popularidade. 





1846 – máquina de costura. Apesar de a máquina de costura não parecer ser uma invenção revolucionária, ela permitiu acelerar em mil vezes o processamento de têxteis para produtos comercializáveisElias Howe recebeu a patente em 1846 pela primeira máquina de costura comercialmente viável. 



Com tantas descobertas que modificaram tanto a forma de viver das pessoas, a grande fonte de riqueza deslocou-se da atividade comercial para a industrial e quem desenvolvesse a capacidade de produzir mercadorias passaria a ter a liderança econômica no mundo. A força e agilidade das máquinas industriais significaram um aumento da produtividade. A oportunidade de emprego nas fábricas que surgiam fez com que milhares de pessoas abandonassem o campo em direção às cidades. Essas mudanças foram fundamentais para acelerar o desenvolvimento do sistema capitalista. A utilização de máquinas nas indústrias, que desempenhavam grande força e agilidade movida à energia do carvão, proporcionou uma produtividade extremamente dinâmica, com isso a indústria tornou-se uma alternativa de trabalho. A agricultura e a criação de animais modicou-se e milhares de pessoas deixaram o campo em direção às cidades. 
O acelerado êxodo rural provocou um rápido crescimento dos centros urbanos em boa parte dos países europeus que passavam pelas mudanças na forma de se produzir. A partir desse crescimento populacional os centros urbanos ficaram saturados, se modificaram as paisagens urbanas, e as cidades não absorveram o fluxo de pessoas de forma planejada, surgindo assim bairros marginalizados compostos por trabalhadores mais pobres.       

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