terça-feira, 29 de março de 2016

7.1 - O Feudalismo

     
Entre os séculos X e XIII, enquanto que o Império Romano entrava em declínio, formou-se um novo sistema político, econômico, social e cultural bastante diferente do que era conhecido na antiguidade. Esse sistema foi chamado de feudalismo. As principais características dessa nova organização eram: o modo de vida rural, economia agrária, poder político fragmentado, rígida divisão social, enfraquecimento das cidades e do comércio, pequena circulação de moeda (predominava o sistema de troca), baixa densidade populacional e forte religiosidade. O sistema feudal predominou na Europa, porém, não em todas as regiões e mesmo onde se desenvolveu não foi sempre da mesma forma. Ou seja, teve diferenças de acordo com a época e região.  


       A ORIGEM DO FEUDALISMO


Com dificuldades para proteger suas fronteiras e controlar revoltas dos povos dominados, os romanos não foram capazes de impedir as invasões dos povos bárbaros e de manter a unidade do império. Nesse período, a insegurança, gerada pelas invasões, fez com que muitas famílias começassem a migrar das áreas urbanas para as áreas rurais dando início a um processo de ruralização. Em muitas regiões foram construídas vilas fortificadas e castelos cercados por grandes muralhas e os mais fracos passaram a depender da ajuda de nobres e de guerreiros. No ano de 476 os germânicos derrubaram o último imperador romano e nas terras antes dominadas pelo Império Romano começaram a surgir diversos reinos independentes e governados pelos germanos. [1]Porém, esses reinos também entraram em crise e o poder passou a ser ocupado pelos grandes proprietários de terra. Aos poucos deixou de existir um governo centralizado na figura do rei.
Assim, durante os primeiros séculos da Idade Média [2] formou-se um novo sistema político, econômico, social e cultural bastante diferente do que era conhecido na antiguidade e que foi chamado de feudalismo. As principais características dessa nova organização social, política e econômica eram: o modo de vida rural, economia agrária, poder político fragmentado, rígida divisão social, enfraquecimento das cidades e do comércio, pequena circulação de moeda(predominava o sistema de troca), baixa densidade populacional e forte religiosidade.

                                                               O poder da igreja

No ano de 391, a religião cristã foi transformada em religião oficial do Império Romano. Durante a Idade Média (século V ao XV), período marcado por guerras, pestes e miséria da maioria, a Igreja Católica conquistou e manteve grande poder. Possuía grande poder econômico, político e jurídico e estabelecia padrões de comportamento moral para a sociedade. Controlando completamente a educação, a Igreja controlava também a forma de pensar das pessoas afirmando que a miséria e a desigualdade social eram vontade divina e sinais de pecado.
Além disso, não permitia opiniões e posições contrárias aos seus dogmas (verdades incontestáveis). Aqueles que desrespeitavam ou questionavam as decisões da Igreja eram perseguidos e punidos. Na Idade Média, a Igreja Católica criou o Tribunal do Santo Ofício(Inquisição) no século XIII, para combater os hereges (contrários à religião católica). Por isso tudo, as pessoas na época viviam com o constante medo de não ter garantido o lugar no céu. 

A POLÍTICA FEUDAL

      Lentamente, entre os séculos X e XIII o poder político foi deixando de ser centralizado em torno dos reis. Os reis continuavam existindo, porém, passaram a dividir seu poder político com os grandes proprietários de terra, chamados nobres ou senhores feudais. Enquanto os reis perdiam poder, os nobres feudais foram se fortalecendo e passaram a governar suas propriedades tendo total autoridade administrativa, judicial e militar. Dessa forma, formaram-se vários centros de poder político.


As relações de poder:

  Uma das razões para o enfraquecimento do poder real foi o aumento dos contratos de vassalagem. Inicialmente, para garantir proteção militar e assim manter-se no poder, o rei cedia aos nobres do reino um feudo, isto é, um pedaço de terra, maior riqueza durante o feudalismo. 
   Com o passar do tempo, os nobres que controlavam grandes extensões de terra, passaram a dividi-la entre outros nobres que podiam, por sua vez, repassar parte dessas terras a outros nobres. 
Aquele que concedia o feudo era chamado de suserano, enquanto que aquele que recebia era chamado de vassalo. A doação do feudo se dava por meio de um juramento de fidelidade onde ficava determinado que o suserano teria o compromisso de dar proteção militar e assistência jurídica ao vassalo, que por sua vez deveria proteger militarmente o suserano e libertá-lo caso esse fosse aprisionado. No feudalismo, o rei continuava sendo o maior dos nobres, já que era somente suserano e não devia obrigações a outro senhor, porém, exercia poder direto somente dentro de seus domínios já que os senhores feudais tinham total autonomia sobre o seu feudo, podendo criar leis, cobrar impostos e organizar e comandar exércitos. 

A SOCIEDADE FEUDAL

A sociedade feudal era dividida em grupos e era caracterizada pela imobilidade social. Como a posição de uma pessoa dependia de seu nascimento, dificilmente ela poderia subir de classe. Assim, a possibilidade de um camponês tornar-se membro da nobreza, por exemplo, era muito pequena. Um nobre, mesmo que falido, continuaria sendo um nobre, enquanto que o camponês, por mais que trabalhasse, dificilmente deixaria de ser um camponês. No auge do feudalismo a sociedade estava dividida da seguinte maneira:

CLERO: A Igreja Católica era a instituição mais importante da sociedade feudal. Seu poder era tanto, que cerca de 1/3 das terras da Europa lhe pertenciam. Logo, seus representantes estavam acima de nobres e de camponeses na divisão social. O clero era formado pelo papa, por cardeais, bispos, abades, monges e padres. A maioria dos membros do clero provinha da nobreza. No imaginário da época, cabia ao clero mediar a relação entre Deus e o homem.
NOBREZA: A nobreza estava encarregada do comando militar. O poder de um nobre dependia do tamanho de suas propriedades e do número de camponeses que trabalhavam em suas terras. A nobreza era composta de reis, duques, marqueses, condes, viscondes, barões. Os nobres consideravam o trabalho braçal indigno e se ocupavam com a guerra, com a caça e com torneios. Eram os chamados senhores feudais.

CAMPONESES: Eram a maioria da população. Esse grupo era composto por um grande número de trabalhadores: artesãos, comerciantes, camponeses livres e servos, que eram a maioria. Predominava no feudalismo a servidão, pela qual a maioria dos camponeses recebiam do nobre um lote de terra e em troca tinham o dever de servir ao senhor. Estavam, portanto, presos a terra.


A ECONOMIA FEUDAL

      No sistema feudal as relações comerciais perderam muito espaço (o pouco comércio que havia se dava pelo sistema de troca). Apesar de outras atividades, a base da economia feudal era a agricultura e a criação de animais. No feudalismo, a principal unidade produtora era o senhorio ou feudo (extensão de terra que pertencia ao senhor) e a forma de trabalho era aservidão[3] Cada feudo era autossuficiente, ou seja, produzia praticamente tudo que seus habitantes necessitavam. Em média um senhorio tinha entre 200 e 250 hectares. Além da residência fortificada do senhor, normalmente um castelo localizado na parte central, o senhorio dividia-se em três partes principais.








As obrigações servis:

A posse sobre a terra durante a Idade Média se consolidou como sendo a coisa mais valiosa para qualquer pessoa. Ter ou não ter terra determinava a condição social e de vida do individuo. Como já foi dito, os senhores feudais tinham total autoridade para de definir os impostos que seriam cobrados e as leis e regras que organizavam o convívio entre as pessoas que viviam no interior de suas terras. Dentro dessa lógica, além de produzirem para seu sustento próprio, os servos eram obrigados a produzir excedentes para poder atender as necessidades dos nobres. Entre as principais obrigações dos servos, pode ser citado:  

CORVEIA: obrigação de o servo trabalhar alguns dias por semana nas reservas senhoriais. Não recebia nada por esse trabalho.

TALHA: os servos deveriam entregar parte de sua produção, agrícola ou pastoril, ao senhor feudal.

BANALIDADES: taxas que os servos deveriam pagar por utilizar equipamentos e instalações do senhorio (celeiros, fornos, moinhos, etc.).

Além dessas obrigações, os servos ainda tinham o compromisso de hospedar o senhor quando esse estivesse de passagem pelos seus territórios, prestar serviço militar e ainda o dever de entregar 10% de sua produção à igreja (dízimo). Apesar de serem explorados pelos senhores e essa condição provocar logicamente revoltas, a relação servil era aceitável para muitos por estar baseada em valores que faziam do senhor feudal, além de explorador, também um protetor.

               TRANSFORMAÇÕES E CRISE DO SISTEMA FEUDAL

Muitos historiadores afirmam que entre os séculos XI e XIII a Europa passou por profundas mudanças. O aumento da produção agrícola, o crescimento da população e o fortalecimento do comércio e das áreas urbanas interferiram na estrutura do sistema feudal a partir do momento que modificam suas principais características.
Um relativo momento de paz, notado no início do século XI, permitiu um lento crescimento populacional. Esse crescimento demográfico exigiu naturalmente um aumento da produção de alimentos o que foi possível devido à: ampliação das áreas de cultivo, rotação de culturas e inovações técnicas. Com a derrubada de florestas e drenagem de pântanos, novas áreas puderam ser preparadas para o plantio. A ampliação das áreas de cultivo foi acompanhada por uma nova forma de rotação de culturas e os campos de plantação passaram a ser divididos em três partes sendo que em duas eram cultivados diferentes cerais enquanto uma descansava por um período, evitando assim, o esgotamento do solo.
A partir do século XI o metal passou a ser mais explorado pelos europeus e novos instrumentos foram introduzidos na prática da agricultura. O melhor exemplo foi o desenvolvimento do arado de ferro, puxado por bois ou cavalos, e que era chamado de charrua. No mesmo período se desenvolveu a ferradura, usada nos cascos dos cavalos com o objetivo de evitar ferimentos. Notou-se também o desenvolvimento na prática de irrigação e as forças das águas e dos ventos passaram a ser mais bem aproveitadas para movimentar moinhos. A maior produtividade agrícola vai provocar, logicamente,melhorias nas condições de vida na Europa. Com o aumento da oferta de alimento, as pessoas passaram a viver melhor e por mais tempo provocando o aumento da população

O crescimento das cidades acompanhou diretamente o fortalecimento das atividades comerciais e artesanais. 
As novas técnicas empregadas na agricultura, além de possibilitarem maior produção de alimento, modificaram profundamente as relações entre nobres feudais e camponeses. Aos poucos já não existia a necessidade de tanta gente produzindo na área rural e o resultado dessa nova realidade foram as revoltas camponesas. Muitos servos deixaram de cumprir com algumas de suas obrigações e os senhores feudais foram forçados a substituir a prestação de serviços obrigatórios por pagamento em dinheiro. Mesmo assim, muitos camponeses tiveram que deixar o campo e partir em busca de outra forma de sobrevivência. Ao mesmo tempo, a maior quantidade e variedade de produtos disponíveis provocaram o aumento da circulação de mercadorias e o revigoramento das atividades comerciais 

A partir do século XII, nos cruzamentos das principais redes de estradas – boa parte delas construídas ainda nos tempos dos romanos – foram sendo organizadas grandes feiras. Logicamente, uma consequência direta do impulso comercial foi o fortalecimento das áreas urbanasA nova realidade incentivou o deslocamento de milhares pessoas para as cidades, onde estavam as novas oportunidades de trabalho ligadas principalmente a produção artesanal.  Com a atividade comercial e artesanal, as cidades cresceram e outras foram surgindo. Cercadas geralmente por altas muralhas, as cidades – chamadas de burgos - passaram a recuperar a importância que haviam perdido no decorrer do período medieval. Com o revigoramento da vida urbana, surge uma nova e importante classe, a burguesia.
Os burgueses eram aqueles que se dedicavam ao comércio, as atividades bancárias e ao artesanato. Foi comum nas cidades a associação entre diversos burgueses nas chamadasCorporações de Ofício[4] ou guildas.  Com o crescimento das atividades urbanas e mercantis, os burgueses que viviam em cidades localizadas em áreas dominadas por senhores e pagavam muitos impostos aos nobres e ao clero, foram tornando-se independentes dos laços feudais, passando a exigir algumas liberdades e a reivindicar direitos.   
Foi justamente essas transformações que provocaram a crise do feudalismo, especialmente por terem modificado suas principais características. O sistema feudal não era compatível com a maior produtividade no campo, com o crescimento e diversificação do comércio e com o fortalecimento das áreas urbanas. Na parte final do século XIII, algumas regiões da Europa, onde as terras mais férteis já haviam sido ocupadas ou que passaram a sofrer com a perda de colheitas devido a condições do clima e guerras, tiveram que enfrentar o terrível problema da escassez de alimento. Esse problema foi acompanhado de perto por grandes epidemias, como foi, por exemplo, a Peste Negra.
Guerras passaram a ocorrer por toda a Europa, prejudicando o comércio e a produção de alimentos. Burgueses se sentiam prejudicados pela situação de completa desordem, camponeses não suportavam a exploração e muitos nobres estavam indo a falência. Como ainda vamos estudar, entre tantos problemas, vai se perceber a necessidade da centralização do poder politico.
                                            AS CRUZADAS
O poder da Igreja Católica sobre a sociedade e principalmente sobre a mentalidade das pessoas durante a Idade Média atingiu o seu momento máximo na organização das chamadas Cruzadas, expedições militares que tinham como objetivo declarado libertar os cristãos e os lugares considerados sagrados, como Jerusalém. A organização das Cruzadas foi iniciativa do Papa Urbano II no ano de 1095 e aos soldados de cristo, como eram chamados aqueles que fosse lutar pela causa da igreja, as autoridades católicas concediam o perdão dos pecados, proteção de sua família e de seus bens e o perdão das dívidas.
Além de serem motivadas por questões religiosas, as cruzadas também foram motivadas por questões econômicas. Muitos nobres participaram das expedições com o objetivo de conquistar novas terras e novos mercados e rotas comerciais poderiam ser conquistadas. Problemas sociais que afligiam a Europa também poderiam ser amenizados através das expedições. De 1095 a 1270 a igreja organizou oito expedições contra os muçulmanos sendo que não contavam apenas com soldados treinados, uma vez que muitos grupos não armados compostos por mulheres, crianças e monges acompanhavam as expedições.
Cada uma das cruzadas, independente de terem alcançado seus objetivos, tiveram suas características e consequências. De modo geral, contribuíram para empobrecer a nobreza feudal e fortalecer o poder real, na medida em que os senhores feudais perdiam seu prestígio e poder. Além disso, rotas no Mar Mediterrâneo voltaram a ser utilizadas e comércio entre o Oriente e o Ocidente se intensificou. 

PESQUISA: As oito cruzadas (http://www.colegioweb.com.br)

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